segunda-feira, 19 de abril de 2010

Aneel suspende leilão da hidrelétrica de Belo Monte

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou na noite desta segunda-feira que suspendeu oficialmente o leilão da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), em razão da nova liminar concedida hoje pela Justiça do Pará. No mesmo comunicado, a Aneel informa que o leilão estava previsto para as 12 horas de amanhã.

O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, informou que apresentará ainda no início desta noite ao presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, Jirair Meguerian, em Brasília, o recurso contra a nova liminar que suspendeu o leilão de Belo Monte. Adams disse acreditar que a liminar seja cassada a tempo de possibilitar a realização do leilão. Adams disse também que é normal o governo enfrentar uma "guerrilha processual" quando realiza esse tipo de leilão e considerou normal que ações contra o leilão sejam apresentadas até minutos antes da licitação, como já ocorreu em outras ocasiões.

sábado, 17 de abril de 2010

MPF recomenda que Ibama não conceda licença ambiental para a Bamin

O empreendimento, que será construído em área de mata atlântica, poderá causar considerável impacto ambiental e descaracterização da paisagem local.

O Ministério Público Federal em Ilhéus (BA) expediu recomendação para que o presidente e o diretor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não concedam licença ambiental prévia para a construção do Terminal Portuário da Ponta da Tulha, empreendimento da Bahia Mineração Ltda (Bamin).
A recomendação foi entregue ao superintendente regional do Ibama durante audiência pública realizada ontem, 15, convocada pelo órgão para analisar o processo de licenciamento ambiental requerido pela empresa.
O terminal, que irá permitir a exportação de minério de ferro produzido na mina localizada em Caetité (BA), será instalado em área de mata atlântica, localizada dentro da Unidade de Conservação Estadual (Área de Proteção Ambiental - APA) Lagoa Encantada e Rio Almada. Para o funcionamento do terminal, será necessária a implantação de ponte de acesso em concreto, correia transportadora construída em estrutura metálica, píeres de carregamento em concreto e de rebocadores, além de um quebra-mar rochoso.
Impactos ambientais - De acordo com a representação, todas as intervenções previstas pela empresa implicarão em considerável impacto na paisagem da região, que compõe um ecossistema de espécies raras de fauna e flora ameaçadas de extinção. Além das construções, ações como transporte, filtragem e estocagem de minério de ferro (produto altamente poluente) trarão severos danos ambientais à reserva e causarão total descaracterização da paisagem com a implantação de todo o arcabouço de concreto, de ferro e de maquinário necessários para os trabalhos de exportação do produto.
Audiência - No último dia 13 de abril, o MPF em Ilhéus ajuizou ação civil pública com pedido de suspensão da audiência pública convocada pelo Ibama com o objetivo de analisar o processo de licenciamento ambiental requerido pela Bamin para implantação do terminal. De acordo com a ação, o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) apresentado pela Bamin não apontava com requisitos mínimos, como objetivos, justificativas, descrição do projeto, síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área, programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos, dentre outras exigências.

Ascom/MPF

segunda-feira, 12 de abril de 2010

CÓDIGO FLORESTAL


Urgente - Aldo Rebelo, deixe as florestas em paz

Mais uma vez, o Código Florestal, corpo de leis que protege as florestas brasileiras desde 1934, está ameaçado.

Assine aqui a petição para não permitir que a bancada da motosserra desfigure nosso Código Florestal.

O deputado Aldo Rebelo irá apresentar em breve um documento com as propostas de alteração dessa lei. E tudo indica que elas vão anistiar desmatadores e flexibilizar a proteção de nossas matas.

Proteste contra mais essa tentativa de acabar com as florestas no Brasil.

Há mais de dez anos, representantes da bancada ruralista deram partida numa ofensiva para mudar o Código Florestal em seu próprio benefício. A preservaçao das florestas é fundamental não só para a manutenção da biodiversidade, mas para equilibrar o clima no Brasil e no resto do planeta. Diante das chuvas torrenciais que provocaram deslizamentos e mortes no Rio de Janeiro, e que tendem a se tornar cada vez mais frequentes, a tarefa de resguardar o que resta de nossas matas é cada vez mais urgente.

Aldo Rebelo já deu indicações que está ao lado dos ruralistas que querem cada vez mais empurrar a agricultura e a pecuária para dentro da Amazônia e para o que sobrou de vegetação nativa em outros biomas brasileiros.

Mande um e-mail para o Aldo Rebelo dizendo que a questão é relevante demais para ser decidida apenas por meia dúzia de deputados em um ano de eleições. O assunto precisa ser debatido por todos os brasileiros e, portanto, o mínimo que se espera de nossos representantes no Congresso é que, ao invés de mexerem em legislação tão fundamental no fim de seus mandatos, tenham a coragem de levar o assunto para a campanha eleitoral.

Rafael Cruz
Coordenador da campanha de código florestal
Greenpeace

sábado, 10 de abril de 2010

HIDRELÉTRICA NO XINGU

Hidrelétrica no Xingó
Será que o Brasil precisa de Belo Monte?
CI-Brasildivulga posicionamento sobre hidrelétrica; a ONG trabalha com índios Kayapó há mais de 18 anos

Brasília, 11 de fevereiro de 2010 —

Contexto: A concepção original da hidrelétrica de Belo Monte, que vem se remodelando desde o regime militar, ganhou destaque internacional e acabou engavetado devido à forte pressão dos povos indígenas e ambientalistas no final da década de 1980. Vinte anos depois, a Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte volta repaginada como uma das principais obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula.

O projeto ressurge como uma obra estratégica, apresentada por meio de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de mais de 20 mil páginas, como a possível terceira maior hidrelétrica do mundo, perdendo apenas para ahttp://residenciacacule.blogspot.com/ usina Três Gargantas (China) e para Itaipu (Brasil-Paraguai) .
A hidrelétrica de Belo Monte propõe o barramento do rio Xingu com a construção de dois canais que desviarão o leito original do rio, com escavações da ordem de grandeza comparáveis ao canal do Panamá (200 milhões m3) e área de alagamento de 516 km2, o equivalente a um terço da cidade de São Paulo.


Questão energética: A UHE de Belo Monte vai operar muito aquém dos 11.223 MW aclamados pelos dados oficiais, devendo gerar em média apenas 4.428 MW, devido ao longo período de estiagem do rio Xingu, segundo Francisco Hernandes, engenheiro elétrico e um dos coordenadores do Painel dos Especialistas, que examina a viabilidade da usina. Em adição, devido à ineficiência energética, Belo Monte não pode estar dissociada da ideia de futuros barramentos no Xingu. Belo Monte produzirá energia a quase 5.000 km distantes dos centros consumidores, com consideráveis perdas decorrentes na transmissão da energia.

Esse modelo ultrapassado de gestão e distribuição de energia a longas distâncias indica que o governo federal deveria planejar sua matriz energética de forma mais diversificada, melhor distribuindo os impactos e as oportunidades socioeconômicas (ex.: pequenas usinas hidrelétricas, energia de biomassa, eólica e solar) ao invés de sempre optar por grandes obras hidrelétricas que afetam profundamente determinados territórios ambientais e culturais, sendo que as populações locais, além de não incluídas nos projetos de desenvolvimento que se seguem, perdem as referências de sobrevivência.


Questão ambiental: A região pleiteada pela obra apresenta incrível biodiversidade de fauna e flora. No caso dos animais, o EIA aponta para 174 espécies de peixes, 387 espécies de répteis, 440 espécies de aves e 259 espécies de mamíferos, algumas espécies endêmicas (aquelas que só ocorrem na região), e outras ameaçadas de extinção. O grupo de ictiólogos do Painel dos Especialistas tem alertado para o caráter irreversível dos impactos sobre a fauna aquática (peixes e quelônios) no trecho de vazão reduzida (TVR) do rio Xingu, que afeta mais de 100 km de rio, demonstrando a inviabilidade do empreendimento do ponto de vista ambiental. Segundo os pesquisadores, a bacia do Xingu apresenta significante riqueza de biodiversidade de peixes, com cerca de quatro vezes o total de espécies encontradas em toda a Europa. Essa biodiversidade é devida inclusive às barreiras geográficas das corredeiras e pedrais da Volta Grande do Xingu, no município de Altamira (PA), que isolam em duas regiões o ambiente aquático da bacia. O sistema de eclusa poderia romper esse isolamento, causando a perda irreversível de centenas de espécies.

Outro ponto conflituoso é que o EIA apresenta modelagens do processo de desmatamento passado, não projetando cenários futuros, com e sem barramento, inclusive desconsiderando os fluxos migratórios, que estão previstos nos componentes econômicos do projeto, como sendo da ordem de cerca de cem mil pessoas, entre empregos diretos e indiretos.


Questão cultural e impactos da obra sobre as populações indígenas: O projeto tem desconsiderado o fato de o rio Xingu (PA) ser o ‘mais indígena’ dos rios brasileiros, com uma população de 13 mil índios e 24 grupos étnicos vivendo ao longo de sua bacia. O barramento do Xingu representa a condenação dos seus povos e das culturas milenares que lá sempre residiram.

Por que os Kayapó, assim como os povos indígenas do Parque Indígena do Xingu, que estão na cabeceira do rio, têm se manifestado ferozmente contrários ao barramento do Xingu, que acontecerá a quase 1.000 km de distância de suas terras? Porque para os índios, o rio é o mundo, lá estão seus ancestrais, suas tradições, seus mitos, seus territórios sagrados, sua cultura. E mesmo a mil quilômetros de distância de onde vivem, o barramento do Xingu terá um impacto direto nas suas vidas.

Na cosmologia indígena, todos os seres estão ligados por uma única teia, que de forma alguma se dissocia da sua vida. O rio tem forte simbolismo para os povos indígenas do Xingu. Sob a sua ótica, ele é continuação da própria casa e da própria alma; é um ser vivo que constitui a essência da cultura e da sobrevivência indígena.

O projeto, aprovado para licitação, embora afirme que as principais obras ficarão fora dos limites das Terras Indígenas, desconsidera e/ou subestima os reais impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais do empreendimento. Além disso, é esperado que a obra intensifique o desmatamento e incite a ocupação desordenada do território, incentivada pela chegada de migrantes em toda a bacia e que, de alguma forma, trarão impactos sobre as populações indígenas.

Como já exposto, o Trecho de Vazão Reduzida afetará mais de 100 km de rio e isso acarretará em drástica redução da oferta de água. Os impactos causados na Volta Grande do Xingu, que banha diversas comunidades ribeirinhas e duas Terras Indígenas - Juruna do Paquiçamba e Arara da Volta Grande, ambas no Pará -, serão diretamente afetadas pela obra, além de grupos Juruna, Arara, Xypaia, Kuruaya e Kayapó, que tradicionalmente habitam as margens desse trecho de rio. Duas Terras Indígenas, Parakanã e Arara, não foram sequer demarcadas pela Funai. A presença de índios isolados na região, povos ainda não contatados, foram timidamente mencionados no parecer técnico da Funai, como um apêndice.

A noção de afetação pelas usinas hidrelétricas considera apenas áreas inundadas como “diretamente afetadas” e, por conseguinte, passíveis de compensação. Todas as principais obras ficarão no limite das Terras Indígenas que, embora sejam consideradas como “indiretamente afetadas”, ficarão igualmente sujeitas aos impactos físicos, sociais e culturais devido à proximidade do canteiro de obras, afluxo populacional, dentre outros. O EIA desconsidera ou subestima os riscos de insegurança alimentar (escassez de pescado), insegurança hídrica (diminuição da qualidade da água com prováveis problemas para o deslocamento de barcos e canoas), saúde pública (aumento na incidência de diversas epidemias, como malária, leishmaniose e outras) e a intensificação do desmatamento, com a chegada de novos migrantes, que afetarão toda a bacia.


Violação de direitos humanos: As populações tradicionais que habitam a área onde a usina foi planejada não foram suficientemente ouvidas nas audiências públicas realizadas para debater o projeto, como determina a legislação brasileira e a Convenção 169 da ONU, ratificada pelo Brasil em 20/6/2002, que garante aos índios o direito às oitivas, ou seja, o direito de serem informados de maneira objetiva sobre os impactos da obra e de terem sua opinião ouvida e respeitada. Foram realizadas apenas três audiências públicas, consideradas insuficientes pelo Ministério Público Federal. Infelizmente, no momento atual, após a licitação da obra, resta a apelação para os tribunais internacionais, uma vez que os recursos jurídicos na instância nacional não têm sido julgados em tempo hábil com relação ao processo de liberação da obra. Os procuradores do Ministério Público que têm se manifestado contra a liberação da licença têm sido constrangidos pelos advogados da União.


Polêmicas: O processo de licenciamento da UHE Belo Monte tem sido cercado por polêmicas, incluindo ausência de estudos adequados para avaliar a viabilidade ambiental da obra, seu elevado custo, a incerteza dos reais impactos sobre a biodiversidade e as populações locais, a ociosidade da usina durante o período de estiagem do Xingu, e a falta de informação e de participação efetiva das populações afetadas nas audiências públicas.

No final de dezembro de 2009, os técnicos do Ibama emitiram parecer contrário à construção da usina (Parecer 114/09, não publicado no site oficial), onde afirmam que o EIA não conseguiu ser conclusivo sobre os impactos da obra: “o estudo sobre o hidrograma de consenso não apresenta informações que concluam acerca da manutenção da biodiversidade, a navegabilidade que garante a segurança alimentar e hídrica das populações do trecho de vazão reduzida (TVR) e os impactos decorrentes dos fluxos migratórios populacionais, que não foram dimensionados a contento”. A incerteza sobre o nível de estresse causado pela alternância de vazões não permite inferir com segurança sobre a manutenção dos estoques de pescado e das populações humanas que desses dependem, a médio e longo prazos. Ainda segundo o parecer técnico, para “a vazão de cheia de 4.000m3/s, a reprodução de alguns grupos de peixes é apresentada no estudo como inviável”, ou seja, o grau de incerteza denota um prognóstico extremamente frágil.

No início deste ano (01/02/10), o governo federal anunciou a liberação da licença prévia para a construção da UHE Belo Monte sob 40 condicionantes, nem todas esclarecidas. A licença foi liberada num tempo recorde e o leilão, que deveria acontecer em abril, foi adiantado para o início de março deste ano. Como a única voz dissonante, o ministro do Meio Ambiente enfatizou a concessão de R$1,5 bilhão como medidas mitigatórias ao projeto, um valor relativamente pequeno em relação ao custo estimado da obra (R$30 bilhões) e incerto para os impactos que ainda se desconhece.

Vale lembrar que uma bacia e seus povos repletos de história e diversidade social, ambiental e cultural nunca terão preço capaz de compensar tamanha riqueza.

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CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL (CI-Brasil)
A Conservação Internacional (CI) foi fundada em 1987 com o objetivo de promover o bem-estar humano fortalecendo a sociedade no cuidado responsável e sustentável para com a natureza, amparada em uma base sólida de ciência, parcerias e experiências de campo. Como uma organização não-governamental global, a CI atua em mais de 40 países, em quatro continentes. A organização utiliza uma variedade de ferramentas científicas, econômicas e de conscientização ambiental, além de estratégias que ajudam na identificação de alternativas que não prejudiquem o meio ambiente. Para mais informações sobre os programas da CI no Brasil, visitewww.conservacao. org

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Eleição da nova diretoria da ONG Prisma


Hoje(9), aconteceu a eleição da nova diretoria da PRISMA – Proteção e Revitalização Integrada e Sustentável da Serra de Monte Alto, com a seguinte composição: Diretoria: Presidente - Edilson da Cruz Araújo Vice - Ricardo Amaral Secretário - Thomé Lucas de Araújo Oliveira Vice - Wilson Pereira dos Santos Tesoureiro - Kelly Carvalho Oliveira Vice - Lícia Santos moura Conselho Fiscal: 1. Alcebiades Segundo 2. Nádia Tais Costa 3. Maria Emília Blanc Amaral Suplentes: 1. Flaviane Santana 2. Edson Souza Magalhães 3. Julio Cesar Lemos

O Vereador José Carlos Lélis Costa - Latinha, sócio fundador da ONG, participou do processo de eleição da nova diretoria da entidade e apresentou as propostas de dois importantes projetos de defesa do meio ambiente: Parque Fluvial do Riacho do Brindes e Projeto Ecoturístico do Poço do Magro.

Blog do Latinha

segunda-feira, 5 de abril de 2010

DISPUTA POR TERRA EM SANTA MARIA DA VITÓRIA - BAHIA

A TARDE

Domingo, 04 de abril de 2010


Cresce a tensão em disputa por terra em Santa Maria da Vitória
Pequenos produtores rurais e advogados brigam na Justiça por área de 30 mil hectares

MÍRIAM HERMES
Santa Maria da Vitória


Um conflito deflagrado há 30 anos e acirrado desde 2008 está tirando a paz de cerca de 400 famílias da zona rural de Santa Maria da Vitória, a 881 km de Salvador. O alvo da disputa, com nove processos na Justiça, é uma área aproximadamente de 30 mil hectares. De um lado, posseiros e pequenos produtores rurais que utilizam há mais de 100 anos o local denominado de fundo de pasto, para deixar o gado à solta. Em pontos diferentes dentro da área em questão existem nascentes perenes.

De outro lado, uma família de advogados que alega ter comprado a área de diversos lavradores e ser dona da vasta extensão de terras. De acordo com a agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Julita Abreu, esta área, além de servir para pastagem do rebanho, também é utilizada para a colheita de produtos naturais como frutos, cascas, sementes e raízes para alimentação e fins medicinais.

“O problema começou depois que este casal de advogados, Maria do Socorro Sobral Santos e Paulo de Oliveira Santos, chegou na cidade e começou a comprar pequenos pedaços de terra na região do cerrado de Santa Maria”, ressalta, acrescentando que a CPT vem atuando em defesa dos lavradores, principalmente com orientação jurídica. Ela destaca que, aos poucos, os acessos dos moradores à água e ao pasto foram sendo fechados, começando pela aguada do Jucurutu. “Quando cercaram a última aguada, no lugar conhecido como Poço de Dentro, os trabalhadores se revoltaram, cortaram a cerca e soltaram o gado”, salienta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria da Vitória, João Sodré.

Ele destaca que, desde então, acontecem diversos confrontos, sendo o de maior repercussão o ocorrido em 28 de fevereiro deste ano. “Era domingo e a gente estava em grupo, procurando algumas cabeças de gado. Na estrada, nos deparamos com uma caminhonete e vimos que dentro dela estava o advogado Paulo Patrício (filho do casal mencionado acima) e mais algumas pessoas, sendo que vimos armas, que inclusive foram fotografadas”, afirma o produtor Elivaldo Alves, 48 anos, ressaltando que foram ameaçados de morte caso soltassem novamente o gado na área de litígio, e que tiros foram deflagrados contra eles, mas ninguém ficou ferido.

Queixa

No dia seguinte, o grupo procurou a Delegacia de Polícia para registrar uma ocorrência, quando descobriu que, durante a madrugada, os advogados Maria do Socorro Sobral Santos e Paulo de Oliveira Santos prestaram queixa contra os trabalhadores, acusando-os de invasão de propriedade e roubo. Segundo o advogado Paulo Patrício Sobral Santos, a versão dos trabalhadores não está correta. Ele diz que foi para a fazenda levar a feira do caseiro e que estava com um amigo que, “por acaso, estava com uma arma no carro”.

Paulo Patrício se defende afirmando que os lavradores estavam armados e apresenta uma foto de um vaqueiro mascarado, de costas, com um revólver na mão, que afirma ter sido feita na ocasião. Apesar de não identificar ninguém, esta e outras fotos estão anexadas no processo contra os pequenos produtores. O episódio mobilizou o ouvidor Agrário Nacional e presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, desembargador Gercino José da Silva Filho, que pediu providências ao governo estadual para acabar com a tensão na área.


Liminar a favor de advogados proíbe ameaça e esbulho



Os lavradores dizem que o casal de advogados Maria do Socorro Sobral Santos e Paulo de Oliveira Santos está respaldado em liminar concedida, em setembro do ano passado, pelo juiz substituto Eduardo Nostrani Simão, ordenando que os réus “se abstenham de ameaçar, turbar ou esbulhar a posse dos autores, sob pena de multa fixa de R$ 50 mil”. A liminar é referente a uma Ação de Interdito Proibitório movida contra os produtores rurais desde abril de 2008. Este tipo de ação jurídica é usado em situações onde o direito de propriedade está sendo ameaçado, com riscos para os donos.

Como garantia para o processo, o magistrado solicitou da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), o bloqueio de até 100 reses por produtor. O juiz alega que esta é uma prática comum em situações idênticas e serviu para manter a paz no local, e que não dá direito aos autores do processo de invadir a terra dos posseiros e pequenos proprietários. Por criticar a decisão do juiz em documento encaminhado a diversas autoridades estaduais e nacionais, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria da Vitória, João Sodré, e a agente da Pastoral da Terra, Marilene Matos, ficaram presos por 30 horas na semana passada.

Conforme Eduardo Nostrani Simão, ele se sentiu coagido na prática do seu exercício funcional, o que está caracterizado no Artigo 344 do Código Penal, além de considerar o texto “um crime contra a honra”.

Retirada

O medo de morrer já afastou da área de conflito famílias nativas do lugar, segundo a agente da CPT Albetânia Santos. “Alguns venderam as terras a preços irrisórios e deixaram a região, indo morar nas periferias das cidades”, diz. Ela acrescenta que algumas pessoas morreram neste período “supostamente porque não suportaram a dor de perder um lugar que elas sempre conheceram como de uso de todos”. O trabalhador rural Valdivino Neri de Souza Filho, 42, afirma que há 20 anos anda com medo. Ele produz mandioca, batata e tem animais em 25 hectares.




Lavradores dizem que área sempre foi de uso comum



Um dos homens mais velhos do lugar, Faustino Moreira dos Santos, 99 anos, afirma que “depois que começou esta disputa, este lugar já não é o mesmo dos meus pais e avós, que sempre moraram aqui e viveram em paz”. Ele confirma que o local sempre foi de uso comum, “para soltar o gado na seca, pegar lenha para fazer comida, tirar as frutas como pequi e cajuí, bem como remédios naturais de casca, raízes e folhas”.

A lavradora Berenice Souza, 37 anos, diz que tem vontade de ir embora. “Toda vez que meu marido, meu pai, irmãos e amigos saem, a gente reza para Deus ajudar que nada aconteça. O pior é que nós somos o lado fraco e já fomos acusados de muita coisa que não fizemos”. Conforme o lavrador Alcione Pereira, 51 anos, “Agora o povo perdeu a coragem. A gente tem medo de morrer”.

Ação

Para identificar os verdadeiros proprietários das terras e o tamanho exato de cada propriedade, a área em conflito está sendo alvo de uma Ação Discriminatória Administrativa Rural, reiniciada em campo na semana passada por prepostos da Coordenação de Desenvolvimento Agrário da Bahia (CDA), vinculada à Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária. Segundo o procurador jurídico do Estado Estácio Dourado, “o processo foi iniciado em 2008, mas nossa equipe foi impedida de agir por pessoas armadas”. Ele destaca que foi feita ocorrência policial e um pedido de alvará para que a Justiça autorizasse o trabalho, o que só ocorreu agora.

Três comissões estão trabalhando no cadastramento das famílias, na medição topográfica e na identificação dos documentos de propriedade. “Vamos conhecer todas as retificações cartoriais e pesquisar profundamente a cadeia sucessória de cada área. Com isso, vamos separar o público (terras devolutas), do particular”, afirma. O procurador diz ainda que se tudo correr normalmente, num prazo entre 90 a 120 dias o trabalho estará concluído.

A advogada Maria do Socorro Sobral Santos, que junto com o marido, Paulo de Oliveira Santos, reivindica a posse das terras, nega que homens sob o comando da sua família estejam ameaçando os trabalhadores rurais. A família, diz ela, discorda da realização da Ação Discriminatória Administrativa Rural que está em curso. “Somente vamos aceitar uma Ação Discriminatória Judicial, porque não confiamos na CDA e, como advogados, acreditamos na Justiça”. Ela se queixa que está sendo vítima de perseguição política e que os trabalhadores rurais estão sendo manipulados.




Fundo de pasto é área comum



O fundo de pasto é uma área de uso comum, de terras devolutas (que são do Estado).
Nela, os produtores, que moram nas proximidades, soltam os animais em tempos de pouca chuva. Essa prática é tão antiga quanto a história da ocupação do interior.
Por manter a vegetação intacta, a prática é considerada importante para a preservação dos biomas.



Terras do conflito têm 400 famílias



A área do conflito em Santa Maria da Vitória engloba as comunidades de Jacurutu, Mutum, Poço do Meio, Água Quente, Brejinho do Gerais, Salobro, Jatobá, Curral Velho, Pedra Preta, Olhos d’Água da Barra e Quatis, que dá nome à fazenda dos latifundiários. Cerca de 400 famílias de pequenos produtores rurais estão envolvidas no caso.